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Quando Andréia Horta publicou uma mensagem crua em suas redes sociais na quinta-feira, 17 de abril de 2024, ela não estava apenas reclamando — estava exposto um sistema que protege homens poderosos enquanto silencia mulheres. A atriz de 41 anos, conhecida por papéis marcantes em novelas da TV Globo, usou palavras que cortaram como lâmina: "Quando um homem tóxico, misógino, violento, abusivo, ardiloso, perverso, mau caráter... é denunciado, isso precisa ser escutado e medidas serem tomadas. Sofrer as consequências disso com as pessoas fingindo que não veem é no mínimo doloroso e revoltante. Isso acontece todos os dias." A mensagem, que viralizou em menos de 24 horas, foi interpretada por milhões como uma resposta direta às acusações contra Cauã Reymond, de 44 anos, que vive o protagonista César na nova novela Vale Tudo, exibida desde 15 de abril no horário das nove.

Do silêncio ao escândalo: o que aconteceu no set de 'Vale Tudo'?

A tensão em torno de Reymond não surgiu do nada. Desde o início das gravações de Vale Tudo, em abril de 2024, boatos circulavam entre a equipe técnica. Segundo o colunista Valmir Moratelli, da Veja Gente, a atriz Bella Campos teria confrontado Reymond no estacionamento dos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro, por ele ter criticado seu desempenho à direção. Ele negou, mas o clima permaneceu pesado. Fontes anônimas confirmaram ao Hugo Gloss que Campos já havia enviado uma reclamação formal à diretoria da emissora antes do incidente. E não foi só ela: o ator Humberto Carrão, que divide cena com Reymond na novela, também teria tido embates com o protagonista, segundo a CNN Brasil. A TV Globo nunca confirmou ou negou.

Na quarta-feira, 16 de abril, antes mesmo da fala de Horta, ex-namoradas de Reymond — Mariana Golfarb e Grazi Massafera — publicaram mensagens ambíguas, mas carregadas de simbolismo, que a internet imediatamente ligou ao ator. Nenhuma o nomeou. Mas o silêncio falou mais alto.

Um passado que a emissora tentou esconder

Aqui está o que ninguém queria lembrar: em 2021, durante as gravações de Um Lugar ao Sol, Horta e Reymond trabalharam juntos como amantes na trama — mas fora das câmeras, a realidade era outra. Segundo investigação da Veja, Reymond fazia comentários constantes e destrutivos sobre o desempenho de Horta, minando sua autoestima. Ela denunciou o comportamento à diretoria da TV Globo. O que aconteceu? Nada. "Panos quentes", como dizem no meio: encobriram para não atrapalhar a produção. Nenhum alerta, nenhuma advertência. Ele continuou no elenco. Ela seguiu em silêncio.

E não foi só com ela. Em 3 de agosto de 2023, durante as filmagens de outro projeto, Reymond gritou com o diretor de cena — um profissional respeitado por toda a equipe — chamando-o de "iniciante" e "inexperiente". A equipe interveio para acalmar os ânimos. A cena não foi regravada. E o diretor, que faz parte da equipe liderada por Luiz Henrique Rios, diretor artístico da TV Globo, passou a evitar trabalhar com Reymond. Ainda hoje, ele não é escalado em seus projetos.

Um padrão que se repete — e que as mulheres já não aceitam mais

A fala de Horta não é só sobre Reymond. É sobre machismo sistêmico. É sobre como a indústria do entretenimento brasileiro protege homens famosos enquanto exige que mulheres se calen. O Think Olga, organização feminista, chamou o caso de "clássico": "O padrão de silenciar vítimas e proteger agressores permanece assustadoramente consistente nas produções brasileiras", afirmou a diretora executiva, Julia Feijó, em entrevista à CNN Brasil no mesmo dia da publicação.

Enquanto isso, o público reage. Mais de 12.500 comentários nas redes sociais ligaram diretamente Horta a Reymond em menos de um dia. As hashtags #EscuteAndréia e #ValeTudoSemAbuso começaram a trendar. E, pela primeira vez, não são só as vítimas que falam — são as espectadoras, as colegas, os técnicos, os jovens que cresceram vendo essas novelas como espelho da realidade.

Quem está no comando? E por que ninguém fala?

Quem está no comando? E por que ninguém fala?

Aqui está o ponto mais incômodo: enquanto o país se mobiliza, a TV Globo permanece em silêncio. Seu CEO, George Marinho, e seu diretor artístico, Luiz Henrique Rios, não emitiram nenhuma declaração. Nenhum comunicado interno. Nenhuma investigação pública. A emissora, que já se posicionou contra assédio em campanhas de marketing, agora parece preferir ignorar o que acontece dentro de suas próprias paredes.

Isso não é acaso. É política. E é cara. Porque, quando uma atriz como Horta, que já enfrentou esse abuso e sobreviveu, decide falar — mesmo que indiretamente —, ela põe em xeque o modelo inteiro de produção. Um modelo que valoriza o nome do astro acima da segurança da equipe. Que prioriza o boato do público acima da ética no trabalho. Que prefere uma novela bem-sucedida a uma equipe saudável.

O que vem a seguir?

Agora, tudo depende da TV Globo. Se ela agir — abrir uma investigação independente, ouvir as vítimas, aplicar sanções —, pode começar a reconstruir sua credibilidade. Se não agir, o silêncio virará complicity. E o público, que já não é mais ingênuo, vai buscar outras plataformas. Outras histórias. Outras vozes.

Enquanto isso, Horta continua calada nas redes. Mas sua mensagem já ecoou. E não vai mais parar.

Frequently Asked Questions

Como a fala de Andréia Horta se conecta às acusações contra Cauã Reymond?

A conexão é clara: Horta já foi vítima de abuso verbal por Reymond durante as gravações de 'Um Lugar ao Sol' em 2021, e sua denúncia foi ignorada pela TV Globo. Sua declaração pública, feita no mesmo dia em que surgiram novas acusações contra ele em 'Vale Tudo', foi entendida como um ato de coragem coletiva — um alerta sobre o padrão recorrente de silenciamento de mulheres na indústria.

A TV Globo já investigou essas acusações antes?

Sim. Em 2021, Horta apresentou uma reclamação formal sobre o comportamento abusivo de Reymond. A emissora optou por "panos quentes" — não conduziu investigação, não chamou Reymond para explicação e não aplicou sanções. Isso foi confirmado pela Veja em reportagem de abril de 2024, revelando que o padrão de impunidade já existe há anos.

Quem mais já sofreu com o comportamento de Cauã Reymond?

Além de Andréia Horta e Bella Campos, o diretor de cena de um projeto anterior foi humilhado publicamente por Reymond em agosto de 2023, chamado de "inexperiente". A equipe precisou intervir. Também há relatos não confirmados de atrizes e técnicos que evitam trabalhar com ele. Ex-namoradas, como Mariana Golfarb e Grazi Massafera, publicaram mensagens que a internet interpretou como críticas indiretas ao seu comportamento.

Por que a TV Globo não se manifestou?

A emissora tem histórico de evitar escândalos que afetem suas produções de alto orçamento. Cauã Reymond é um dos atores mais populares do horário nobre, e sua imagem comercial é valiosa. A ausência de resposta pode ser estratégica — mas também é um sinal de que a cultura de impunidade ainda prevalece dentro da organização, mesmo com pressão pública crescente.

O que as organizações feministas estão pedindo agora?

Grupos como Think Olga e Women's March Brazil exigem investigação independente, transparência e políticas reais de proteção a profissionais da indústria. Eles pedem que a TV Globo crie canais seguros para denúncias, implemente treinamentos obrigatórios contra assédio e puna agressores, independentemente de sua fama — algo que nunca foi feito de forma consistente no Brasil.

O que isso significa para o futuro das novelas brasileiras?

Se a TV Globo não mudar, o público vai buscar conteúdo em plataformas mais éticas — como Netflix e Globoplay, que já têm políticas de segurança mais rígidas. A nova geração de espectadores não aceita mais histórias de amor que escondem abusos. O futuro das novelas depende de quem está por trás das câmeras — e não apenas da frente.