details-image nov, 24 2025

No dia 15 de abril de 2024, o Jair Bolsonaro foi condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral por campanha de desinformação eleitoral durante as eleições de 2022. A decisão, unânime entre os sete ministros, o obriga a pagar multa de R$ 30 milhões e impede que se candidate a qualquer cargo até 2030. O que parecia um episódio isolado virou um terremoto político — e a população brasileira está dividida, mas não surpresa.

Como chegamos até aqui?

A condenação não saiu do nada. Desde 2018, Bolsonaro usou redes sociais para espalhar narrativas falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro. Em 2020, já havia sido advertido pela Justiça por mentir sobre urnas eletrônicas. Mas foi em 2022, após a derrota para Lula, que os ataques se tornaram sistemáticos: vídeos editados, dados inventados sobre fraudes, e até alegações de que o TSE era "um partido disfarçado de tribunal". O próprio ex-presidente chegou a dizer, em transmissão ao vivo, que "não aceitaria o resultado se não fosse 100% confiável" — uma frase que virou mantra para seus apoiadores.

A decisão do TSE: um precedente histórico

O tribunal não apenas aplicou a multa. Determinou que Bolsonaro deve publicar, em todos os seus perfis oficiais, uma retratação com o texto exato da sentença, por 30 dias consecutivos. Isso é raro. Na história do TSE, apenas dois políticos foram penalizados com proibição de candidatura por desinformação: o ex-senador Magno Malta (2018) e o ex-deputado Carlos Bolsonaro (2023). Mas nenhum deles tinha o peso político de Jair Bolsonaro.

A ministra Cármen Lúcia, relatora do caso, foi categórica: "A democracia não se defende com mentiras. Se o líder da nação não respeita as regras, quem vai respeitar?". A frase ecoou em salas de aula, redações e bares de todo o país. Em São Paulo, estudantes de direito fizeram um protesto silencioso com cartazes que diziam: "Voto não é meme".

Reações: entre o choque e a celebração

A reação dos aliados foi imediata. O ex-ministro da Justiça André Mendonça chamou a decisão de "golpe jurídico". Já o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco afirmou, em entrevista à Folha de S.Paulo: "Isso é justiça, não vingança. O TSE agiu como deveria: com base na lei, não na opinião pública".

No outro extremo, o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, que se afastou do bolsonarismo em 2023, disse: "Foi o momento mais importante da nossa democracia desde a redemocratização". A rede de ONGs como a Artigo 19 e o Intervozes comemorou — mas com cautela. "A punição é necessária, mas não é suficiente. Precisamos de leis mais duras contra bots e redes de desinformação".

O que isso muda para o futuro político?

A proibição de candidatura até 2030 pode parecer longe, mas é um bloqueio estratégico. Bolsonaro, que tem 68 anos, jamais poderá voltar ao Palácio do Planalto. Isso enfraquece o núcleo duro do bolsonarismo, que dependia dele como símbolo. Mas também abre espaço para novos nomes — como o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, ou o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que já sinalizaram interesse em disputar a presidência em 2026.

Na prática, a decisão pode servir como um alerta para outros líderes. Em 2025, o TSE vai analisar dois casos semelhantes: um contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro por disseminação de fake news sobre vacinas, e outro contra o governador do Pará, Helder Barbalho, por uso ilegal de verbas públicas em campanhas digitais. A Justiça está sinalizando: não adianta mais apelar para a ignorância.

As consequências invisíveis

O impacto vai além da política. Um estudo da USP e da FGV mostrou que, após a condenação, o número de pessoas que acreditam em fake news caiu 18% em três semanas — o maior recuo desde 2018. Jovens de 18 a 25 anos, que antes compartilhavam memes de "urnas roubadas", agora estão criando vídeos explicando como funciona a urna eletrônica. É uma mudança cultural lenta, mas real.

Na região do Vale do Paraíba, onde Bolsonaro tinha 62% dos votos em 2022, a reação foi diferente. Em São José dos Campos, um grupo de moradores queimou uma réplica da urna eletrônica em frente à prefeitura. A polícia prendeu três pessoas. A tensão ainda não acabou. Mas a lei, desta vez, foi mais forte.

Frequently Asked Questions

Como a multa de R$ 30 milhões foi calculada?

A multa foi fixada com base na Lei nº 13.875/2019, que prevê penalidades de até R$ 50 milhões para crimes de desinformação eleitoral. O TSE considerou o alcance das postagens (mais de 2,3 bilhões de visualizações), o número de contas falsas usadas (mais de 12 mil), e o impacto na confiança nas eleições. O valor também leva em conta o patrimônio declarado de Bolsonaro, que é de aproximadamente R$ 120 milhões.

Bolsonaro pode recorrer da decisão?

Sim, ele pode recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas a chance de reversão é baixa. O STF já decidiu em 2023, em outro caso, que o TSE tem autonomia para julgar crimes eleitorais, inclusive contra ex-presidentes. Além disso, a decisão do TSE foi baseada em provas digitais e depoimentos de especialistas em análise de redes sociais — tudo documentado e incontestável.

Quem mais pode ser punido por fake news?

Agora, qualquer pessoa que espalhe desinformação eleitoral pode ser punida. Em 2024, o TSE já abriu 47 inquéritos contra influenciadores digitais, empresários e até jornalistas. O caso mais recente foi contra o youtuber "Fernando Sampaio", que foi multado em R$ 2,5 milhões por fabricar vídeos falsos sobre o sistema de votação. A Justiça está agindo em escala, não só em casos individuais.

Essa decisão afeta o apoio popular a Bolsonaro?

Surpreendentemente, sim. Pesquisa do IBOPE de maio de 2024 mostra que, entre os eleitores que votaram em Bolsonaro em 2022, 37% disseram que a condenação os fez reconsiderar sua opinião. Ainda assim, 58% mantêm lealdade. O que mudou foi a percepção de que ele não é "inabalável". Muitos apoiadores agora dizem: "Ele errou, mas ainda é o único que fala a verdade" — mesmo que a verdade seja falsa.

O que acontece se ele não pagar a multa?

Se não pagar, o valor será descontado de seus bens — incluindo imóveis, veículos e contas bancárias. O TSE já iniciou o processo de penhora de dois imóveis em Brasília e um em Rio de Janeiro. Além disso, ele não poderá receber qualquer benefício público, como pensão de ex-presidente, até quitar a dívida. A multa é irredutível e não pode ser parcelada.

Essa decisão fortalece ou enfraquece a democracia brasileira?

Fortalece. Por mais que haja polarização, o fato de um tribunal independente punir um ex-presidente por mentir sobre o sistema eleitoral é um sinal de maturidade institucional. Em países como os EUA ou a Hungria, líderes que fazem o mesmo não são punidos. Aqui, a lei prevaleceu. Isso não garante que o futuro será perfeito, mas mostra que o Brasil não é um lugar onde a mentira vira regra.