Central Córdoba: Raízes operárias e feitos improváveis
Quando alguém fala sobre futebol argentino, dificilmente pensa em Central Córdoba de Santiago del Estero logo de cara. Fundado em 1919 por um grupo de trabalhadores dos trilhos que ligavam Santiago del Estero a Córdoba, o clube ganhou o apelido de El Primer Grande Del Interior, título que ainda hoje ecoa com orgulho longe dos grandes centros urbanos do país.
O pessoal do Central Córdoba sabe bem o que é enfrentar desafios gigantescos. Em 1967, surpreenderam o país ao derrotar o Boca Juniors dentro da mítica La Bombonera — uma façanha inédita para um clube do interior até então. Essas páginas heroicas do passado nunca foram esquecidas, mas o clube enfrentaria um longo hiato fora da elite: quase meio século longe da principal divisão nacional.
Só em 2019 vieram os ventos da redenção. Central Córdoba voltou ao topo, trazendo de volta a tradição dos ferroviários e instigando o orgulho do interior argentino. A cada rodada, enchem o acanhado Alfredo Terrera, estádio para pouco mais de 21 mil torcedores — mas onde a paixão quase sempre supera a estrutura.
Copa Argentina muda a trajetória e sonho continental vira realidade
O ano de 2024 ficará para sempre marcado na memória dos torcedores. Em dezembro desse ano, Central Córdoba levantou seu primeiro grande troféu: a Copa Argentina. O herói? Matías Godoy, que acertou um chute de longe contra o Vélez Sarsfield, garantindo o 1 a 0 e escrevendo de vez o nome do clube nos livros de história do futebol nacional.
O título valeu mais do que a taça em si. Com a vitória, o time garantiu vaga inédita na Copa Libertadores de 2025, um feito inédito não apenas para o clube, mas para a província inteira de Santiago del Estero, que nunca havia visto um representante nos gramados do principal torneio do continente sul-americano.
Agora, Central Córdoba se prepara para encarar desafios ainda maiores. Logo de cara, tem pela frente o Flamengo, um dos favoritos e times mais ricos das Américas, no grupo da Libertadores. O favoritismo é todo dos cariocas, mas quem duvida da capacidade do azarão, depois de tudo que já superaram? Os jogadores vivem o sonho de qualquer atleta do interior: sair do anonimato e encarar as feras do continente.
Para Santiago del Estero, cada jogo da Libertadores será um evento. O orgulho regional está nas alturas — têm motivos de sobra para isso. Não é todo dia que uma equipe de interior enfrenta gigantes sul-americanos de igual para igual.
Ninguém sabe até onde vai o Central Córdoba, mas o que já fizeram vai além dos resultados. Representam o poder do trabalho coletivo, da resistência e da esperança que o futebol pode oferecer a comunidades inteiras, lá onde o trem passa, e a paixão pelo clube faz o chão tremer.
