CazéTV leva todas as partidas da Copa de 2026 e inaugura nova fase da disputa por audiência esportiva
Todas as partidas, de graça, no celular, na Smart TV ou no notebook. O acordo da CazéTV com a FIFA para transmitir os 104 jogos da Copa do Mundo 2026 muda o jogo no Brasil e coloca a plataforma digital no centro da conversa que, por décadas, girou em torno da TV aberta. A competição será disputada de 11 de junho a 19 de julho nos Estados Unidos, Canadá e México, com formato ampliado: 48 seleções, 12 grupos de quatro e fase final inchada, que explica o salto a 104 duelos.
O movimento desafia a hegemonia histórica da Globo no Mundial, mas não exclui a TV. A emissora mantém direitos sobre 52 partidas, incluindo todos os jogos da seleção brasileira e a final — herança do contrato assinado em 2022, deliberadamente não exclusivo para reduzir custo e risco. Na prática, o torcedor poderá escolher: assistir pela Globo/SporTV ou pelo YouTube da CazéTV, jogo a jogo.
Casimiro Miguel vai liderar a cobertura, repetindo a fórmula que deu tração em 2022, quando a CazéTV exibiu 39 partidas e explodiu a base de assinantes do canal. O plano agora é multiplicar conteúdos paralelos: programas diários, conteúdos culturais sobre as sedes, bastidores e formatos interativos pensados para quem assiste no celular e comenta em tempo real. A LiveMode, parceira de negócios do canal, costurou o acordo com a FIFA e vem apostando em pacotes digitais como eixo de crescimento.
Não é um caso isolado. A CazéTV já emendou eventos da FIFA, como a Copa do Mundo Feminina de 2023, a Copa Intercontinental e o Mundial de Clubes de 2025, muitas vezes em parceria com detentores globais de direitos, como a DAZN. O recado é claro: o digital deixou de ser “plano B” e virou janela principal para grandes torneios, especialmente para quem tem menos de 35 anos e já troca o controle remoto pela barra de busca do YouTube.
O pacote ainda aproveita uma característica da Copa de 2026: a fase de grupos, com 12 chaves, empilha jogos em horários próximos. Em dias mais cheios, o espectador verá partidas simultâneas — e a CazéTV precisará operar múltiplos sinais e equipes em paralelo. Para o público, isso vira liberdade: escolher a narração, o formato (transmissão “clean”, mesa com criadores, react) e até ficar no zapping digital entre partidas.

O que muda para o torcedor, para a Globo e para o mercado
Para o torcedor, a principal novidade é o acesso amplo e gratuito. Não precisa de assinatura nem de pacote de TV: basta abrir o YouTube. As transmissões devem ser geolocalizadas — liberadas no Brasil e bloqueadas fora — porque direitos são vendidos por território. Para quem mora em áreas com internet instável, a qualidade vai depender do plano de dados e do Wi‑Fi; por outro lado, a experiência no celular e na Smart TV tende a ser mais personalizada, com chat, enquete e trilhas de conteúdo ao redor do jogo.
Os horários também contam. Com Estados Unidos, Canadá e México como sedes, os jogos devem se concentrar à tarde e à noite no Brasil, o que favorece audiência multiplataforma — o trabalhador que volta para casa pode acompanhar primeiro no celular e depois espelhar na TV. Nas últimas Copas, esse comportamento híbrido só cresceu, e a oferta simultânea em TV aberta, TV paga e streaming tende a turbinar a soma de alcance.
Para a Globo, o cenário é mais competitivo, mas não necessariamente ruim. Ao abrir mão de exclusividade no acordo com a FIFA, a emissora reduziu desembolso e risco comercial, mantendo o coração do produto (Brasil e final) e preservando a vitrine de alcance da TV aberta. A disputa acontece na venda publicitária: marcas que buscam escala e associação histórica com o Mundial seguem olhando para a Globo; marcas que querem conversa direta com jovens e métricas digitais migram parte do orçamento para o YouTube da CazéTV.
Essa divisão também mexe com a mensuração. Na TV, o mercado usa a medição de audiência minuto a minuto; no YouTube, a régua passa por visualizações, tempo de sessão, picos de simultâneos e engajamento no chat. Para quem compra mídia, a pergunta deixa de ser “quem ganhou” e vira “como combinar as duas janelas para aumentar frequência sem cansar o público”.
No lado da CazéTV, a monetização deve vir de pacotes de patrocínio, cotas de transmissão, inserções comerciais e ativações de marca dentro dos programas diários. O histórico recente mostra apetite de marcas por formatos mais flexíveis: integração com criadores, desafios, cortes rápidos para redes sociais e experiências ao vivo com torcida. Em 2026, espere naming rights de quadros, entregas por segmento (games, música, cultura das sedes) e planos que cruzam transmissão e conteúdo de bastidor.
Há também desafios práticos. A operação de 104 partidas exige escala: equipes de narração, comentaristas convidados (ex-jogadores, treinadores, árbitros), produção em diferentes cidades, controle de direitos de imagem e trilhas, além de moderação do chat em larga escala. A plataforma precisa lidar com picos de audiência sem travar, reduzir a latência (o “delay” do streaming) e manter alta definição estável para Smart TVs. É um salto maior do que 2022 — e vai exigir redundância técnica e planejamento de grade para dias com três ou quatro jogos encavalados.
Do ponto de vista editorial, a CazéTV promete ampliar o leque além do jogo. Conteúdos culturais sobre as cidades-sede, guias práticos (transporte, alimentação, clima), cobertura de treinos e coletivas, quadros de análise e recortes que conversam com memes e tendências devem ajudar a manter o canal vivo nos intervalos. A ideia é esticar a “vida útil” de cada partida com cortes, bastidores e reedições rápidas para quem perdeu ao vivo.
O formato ampliado da Copa ajuda nessa estratégia. Com 48 seleções e 12 grupos, mais países estreiam aos olhos do público brasileiro. Isso abre espaço para histórias que normalmente passariam fora do radar: seleções estreantes, torcidas curiosas, técnicos com métodos pouco conhecidos, jogadores abaixo do mainstream. No digital, nichos têm força: um jogo de menor apelo em TV aberta pode virar hit ao ganhar narrativa certa no streaming.
Outro efeito provável é a aceleração do “segunda tela”. Mesmo quem assistir aos jogos do Brasil na Globo pode abrir o celular para comentários, estatísticas, câmeras alternativas e reações da equipe da CazéTV. As marcas entendem essa lógica e já planejam ações pensadas para o scroll durante o intervalo ou para o pós-jogo imediato, quando os cortes viralizam em poucos minutos.
FIFA e organizadores também ganham. Ao fechar com uma plataforma que conversa com audiência digital, aumentam alcance entre jovens e ampliam o ciclo de relevância do torneio. Em 2022 e 2023, a entidade intensificou acordos que misturam TV tradicional e pacotes digitais regionais, apostando em criadores com comunidades fiéis ao invés de depender só de canais lineares. A Copa de 2026, maior em jogos e países, funciona como laboratório perfeito dessa estratégia.
Na prática, o torcedor brasileiro terá um cardápio inédito. Quer narração clássica e clima de transmissão tradicional? Globo e SporTV seguem firmes. Prefere linguagem de internet, humor na medida e interação? A CazéTV ocupa esse espaço. Em dias cheios, dá até para acompanhar dois jogos ao mesmo tempo, com TV na sala e YouTube no celular. Para quem está fora de casa, o 4G/5G vira a porta de entrada do Mundial.
Algumas perguntas seguem no ar e serão respondidas mais perto do torneio. Haverá multicam com ângulos exclusivos? As transmissões trarão recursos de acessibilidade ampliados, como Libras e audiodescrição em todos os jogos? O quanto da programação ao redor do jogo será ao vivo e quanto será gravado para virar série? A definição da grade e da equipe deve avançar após o sorteio da fase de grupos, previsto para o fim de 2025.
Se a Globo acostumou o país a acompanhar a Copa no mesmo canal por décadas, 2026 aponta para uma convivência. A TV aberta mantém o alcance massivo e a liturgia do evento; o streaming amplia escolhas, linguagem e formatos. Para a audiência, é raro: em vez de perder, todo mundo ganha mais jeitos de ver. Para o mercado, é teste de estresse — quem planejar melhor a combinação de janelas, formatos e métricas sai na frente.
O que já dá para cravar é o significado do acordo: a porta que se entreabriu em 2022, quando a CazéTV fez 39 jogos e ganhou fôlego, agora escancara. A Copa de 2026 será a maior de todos os tempos no número de partidas — e, no Brasil, também será a mais plural em formas de consumir. O torcedor escolhe a trilha sonora. O jogo, esse, está garantido para todo mundo.