Thunderbolts* desembarca no Disney+: a aposta ousada da Marvel para o pós-Vingadores
A Marvel quer um novo time para chamar de seu? Thunderbolts* chegou ao Disney+ nesta quarta-feira, 27 de agosto, às 4h (horário de Brasília), com uma proposta clara: colocar os anti-heróis no centro da conversa. É o primeiro grande passo do estúdio para preencher o vácuo deixado pelos Vingadores clássicos — e faz isso apostando em personagens que já erraram muito, mas ainda têm algo a provar.
Dirigido por Jake Schreier, o longa estreou nos cinemas em 2 de maio de 2025 e migrou para o streaming após um intervalo de cerca de três meses. O desempenho nas bilheterias ficou abaixo do padrão dos blockbusters da Marvel, ainda que a abertura mundial tenha sido de US$ 150 milhões. Curioso? A crítica virou aliada: a produção cravou 88% no Rotten Tomatoes, empurrando o boca a boca e reforçando a ideia de que a estratégia pode funcionar melhor em casa, onde os fãs do MCU acompanham tudo com calma — e em maratona.
O elenco é um desfile de rostos conhecidos. Florence Pugh retorna como Yelena Belova, Sebastian Stan traz o peso de Bucky Barnes, David Harbour injeta humor como Red Guardian, Hannah John-Kamen reaparece como Ghost, Olga Kurylenko resgata a enigmática Taskmaster, Wyatt Russell vive o tenso John Walker e Julia Louis-Dreyfus comanda o tabuleiro como a calculista Valentina Allegra de Fontaine. Lewis Pullman entra no jogo com um papel importante que mexe com a dinâmica do grupo.
O ponto de partida é simples e eficiente: Valentina manipula peças quebradas. Esses ex-vilões e heróis em zona cinzenta são jogados em uma armadilha mortal que exige deles algo que nenhum está acostumado a dar: confiança. A pergunta central não é se eles vencem a missão, mas se conseguem sobreviver uns aos outros sem implodir. A trama usa ação dura, humor seco e decisões difíceis para testar limites — e escapa do maniqueísmo clássico que marcou a fase dos Vingadores.
Chamá-los de “os novos Vingadores” é provocação e estratégia de marketing. Funciona porque a comparação é inevitável, mas aqui o DNA é outro. Em vez do heroísmo reluzente, temos um time improvisado, montado com peças que parecem sobras, sim — e o filme encara essa crítica de frente. Há algo de filme de assalto e algo de missão suicida, com a bagunça interna virando a verdadeira ameaça. Quando engrena, a dinâmica rende: Yelena e Red Guardian são o motor cômico, Bucky segura o drama, e Valentina puxa as cordas.
No streaming, a estreia segue o padrão recente da Disney: janela curta entre cinema e plataforma e foco em assinantes que querem acompanhar a narrativa geral do MCU sem perder peças. Nos EUA, o Disney+ oferece o plano Básico (com anúncios) a US$ 10 por mês e o Premium (sem anúncios) a US$ 16 por mês ou US$ 160 no ano, com downloads para ver offline no Premium. Os valores variam por país.
O asterisco no título não é erro de digitação. Ele faz parte da identidade visual do filme nas peças oficiais. É um detalhe que conversa com a ideia de rodapé, de nota lateral do universo Marvel — estes não são os protagonistas perfeitos. O filme assume isso desde o cartaz.
Em termos de ritmo, Jake Schreier tenta equilibrar arcos individuais com um propósito coletivo. Nem sempre é suave, mas quando a câmera encosta nos dilemas pessoais — culpa, legado, controle — a história respira. Esse ajuste de tom é parte do experimento: a Marvel dá um passo para longe da fórmula “piada-ação-piada” e deixa que o desconforto conduza a trama.
O contexto de mercado pesa. Na era pós-Endgame, a bilheteria do MCU ficou mais desigual. Thunderbolts* não é exceção, mas também não repete erros de inflar escala sem sustância. O apelo aqui é personagem; a aposta, relação. E isso costuma envelhecer bem no streaming.
- Disponível no Disney+ desde 27/8, às 4h (Brasília).
- Chegou após cerca de 90 dias da estreia nos cinemas.
- Planos do Disney+ nos EUA: Básico (com anúncios) a US$ 10/mês; Premium (sem anúncios) a US$ 16/mês ou US$ 160/ano, com download offline no Premium. Valores mudam por região.
O filme conversa direto com tramas recentes do MCU. Se você quer chegar mais por dentro, vale revisar alguns títulos-chave: o arco de Yelena e Red Guardian em Viúva Negra; a apresentação de John Walker e de Valentina em Falcão e o Soldado Invernal; a origem de Ghost em Homem-Formiga e a Vespa; e as reconfigurações de Bucky ao longo dos filmes do Capitão América e da série com Sam Wilson. Nada é obrigatório, mas tudo soma.

Quem está no time, o que ver antes e para onde o MCU aponta
O grupo é um mosaico de histórias inacabadas, e é justamente aí que Thunderbolts* encontra o seu norte. Cada personagem carrega uma conta emocional para pagar, e a missão vira o pretexto para esse acerto de contas.
- Yelena Belova (Florence Pugh): filha emocional de Natasha, usa sarcasmo como armadura. O filme a empurra para um papel de liderança que ela não pediu.
- Bucky Barnes (Sebastian Stan): a memória é o inimigo. Ele tenta ser bússola moral num time que desconfia de bússolas.
- Red Guardian (David Harbour): bravata, coração e punchline. Funciona como cola quando o grupo racha.
- Ghost (Hannah John-Kamen): trauma e instabilidade viram habilidade em campo. Ainda luta para existir fora do rótulo de “experimento”.
- Taskmaster (Olga Kurylenko): observadora letal, fala pouco e reage muito. O passado pesa em cada movimento.
- John Walker (Wyatt Russell): símbolo gasto, orgulho ferido. Ele quer provar algo que o uniforme não provou.
- Valentina Allegra de Fontaine (Julia Louis-Dreyfus): condutora fria. Vê pessoas como peças e missões como oportunidades.
- Participação de Lewis Pullman: papel novo que mexe na hierarquia e adiciona fricção.
Quer maratonar antes? Uma trilha curta ajuda:
- Viúva Negra — para entender Yelena, Red Guardian e Taskmaster.
- Falcão e o Soldado Invernal — para Walker, Bucky e a primeira impressão de Valentina.
- Homem-Formiga e a Vespa — para a origem de Ghost.
- Gavião Arqueiro — para rever o encontro de Yelena com Clint e a ferida que ficou.
Na tela, a pergunta que segura tudo é: dá para confiar em quem já traiu? Thunderbolts* responde com ação nervosa e humor na medida, sem perdoar decisões ruins só porque “o mundo precisa de heróis”. O filme fala de segunda chance sem romantizar. Às vezes, a melhor escolha é só a menos pior — e isso rende boas cenas quando o time precisa decidir quem fica para trás, quem recebe a verdade e quem engole o orgulho.
Sobre o papo “novo Vingadores”: o rótulo ajuda a vender, mas o valor real está em abrir uma avenida diferente para o MCU. Quando o estúdio dá espaço para personagens “menores” ganharem centro, ele também recalibra expectativas. Você não vai encontrar grandes discursos morais; vai encontrar gente tentando não repetir o pior de si. É uma troca justa para uma fase que precisa de frescor.
Para quem gosta de números: sim, a bilheteria não estourou. O que impressiona é a curva crítica. Com 88% no Rotten Tomatoes, o filme ganhou o selo “vale a pena” que muitos projetos recentes da Marvel lutaram para manter. No streaming, esse tipo de percepção costuma pesar mais que arrecadação, porque o custo de entrada é o da assinatura já ativa. E a vida longa no catálogo permite revisitas — algo que favorece histórias de grupo, cheias de detalhe de relação.
E o futuro? Thunderbolts* atua como ponto de virada. Fecha arcos abertos desde Viúva Negra e Falcão e o Soldado Invernal, mas deixa portas entreabertas para novas missões de bastidor, com menos capa e mais cinza. É um terreno fértil para participações especiais e cruzamentos com séries que exploram política, espionagem e ética no MCU. Não espanta se o time virar presença recorrente, ora como solução incômoda, ora como problema necessário.
Se você quer um atalho rápido antes de dar o play: preste atenção em Valentina. Ela é a régua do filme. Onde ela encosta, surgem alianças improváveis e consequências caras. O grupo pode até vencer a batalha do dia; a guerra que interessa para ela é outra.
No fim, Thunderbolts* funciona quando abraça seu ponto de vista: ser uma nota de rodapé que rouba a página. E quando o MCU joga luz nesse tipo de história, abre espaço para risco calculado — o tipo de risco que pode não explodir bilheteria, mas ajuda a reconstruir confiança. Se a ideia era abrir a temporada dos anti-heróis, o serviço está feito. Agora é ver como o público do Thunderbolts no Disney+ transforma curiosidade em fidelidade.